sexta-feira, 31 de outubro de 2014


Review do segundo álbum da Run the Jewels.

No ano de 2013, El-P e Killer Mike abalaram as estruturas do hip-hop ao criarem "Run the Jewels", a dupla abominável. O álbum gratuito foi muito bem recebido por fãs do mundo todo, que não se contentaram em apenas baixar mas também, adquiriram o álbum tanto fisicamente, como digitalmente também. A continuação, meramente intitulada "Run the Jewels 2" também é um projeto gratuito, mas que assim como o anterior, conta com pacotes especiais para os aventureiros cheios da grana. Inclusive, um desses pacotes da pré-order prometia a aposentadoria de ambos, mas tem um custo de 10 milhões de dólares. Aliás, existem dezenas de pacotes, um mais absurdo do que o outro. Chega de enrolação, confira abaixo o review:



Tracklist:
1 - Jeopardy
2 - Oh My Darling Don't Cry
3 - Blockbuster Night Part 1
4 - Close Your Eyes (And Count to Fuck) [ft. Zack de la Rocha]
5 - All My Life
6 - Lie, Cheat, Steal
7 - Early [ft. Boots]
8 - All Due Respect (feat. Travis Barker)
9 - Love Again (Akinyele Back) (feat. Gangsta Boo)
10 - Crown [ft. Diane Coffee]
11 - Angel Duster
12 - Blockbuster Night, Pt. 2 (feat. Despot & Wiki) [Bonus Track]


Track-by-Track


"Jeopardy" - Intro muito propícia ao estilo da dupla no quesito agressividade. A faixa começa com Killer Mike utilizando aquele dialeto famoso apropriado por Snoop Dogg do "izzle". Posteriormente, lança várias referências a lendas do hip-hop, como Chuck D e Bun B. O verso de El-P já é um pouco mais filosófico, tratando de sua auto-estima e de como o mundo vê a sua existência. Uma introdução bem interessante, pelo ritmo mais lento, mas pelas rimas pesadas já características. Ótima maneira de se começar Run the Jewels 2.

"Oh My Darling Don't Cry" - OH MY! Que música! Instrumental grave, refrão memorável, versos intercalados entre El-P e Killer Mike, curtos e direto ao ponto... não tem uma falha sequer nessa faixa. As referências estão no ponto, wordplay muito inteligente, ótimo flow... Os caras realmente se superaram com esta, que foi o segundo single do álbum, liberado através dos "Adul Swim Singles" deste ano. A frase ganhadora por ser mais criativa nesta música vai para El-P com: "You can all run naked backwards through a field of dicks".


"Blockbuster Night Part 1" - Transição perfeita para com a última faixa. Ambos os rappers seguem um estilo muitíssimo parecido no começo de seus versos, mostrando a química que tem no microfone. Gostei da ausência de um refrão aqui, pois deu muito mais espaço para os versos criativos dos dois. É um formato bem utilizado por rappers como MF DOOM, que poderia ser utilizado mais vezes por mais rappers.



"Close Your Eyes (And Count to Fuck)" - Uma feature deveras improvável surge aqui com a aparência de Zack de la Rocha, vocalista da Rage Against the Machine, que não só providencia o refrão, como também tem um verso exclusivo bem legal. Outra coisa bacana foram as frases complementares que um rapper teve no verso do outro, isso poderia ser feito mais vezes. Novamente, a transição também foi impecável da faixa anterior para esta, assim como desta para a faixa seguinte.

"All My Life" - Apesar de terem dado uma diminuída de ritmo nesta faixa, ela contém a essência da dupla nas letras, com o foque no refrão, que retrata essa maneira que ambos sempre tiveram, antes mesmo dos álbuns e da "fama". A atitude agressiva sempre esteve presente na vida dos dois e, eles deixam isso claro aqui. Os versos são uma mistura entre esse tema e sobre nada também, apenas rimas sem muito compromisso. Boa faixa pra dar uma apaziguada no ouvinte.

"Lie, Cheat, Steal" - "Kill, Win!" Outro instrumental que contém elementos eletrônicos, e com um esquema de verso gigante, refrão, verso gigante e refrão novamente. O que aprendemos com essa música, criançada? Que o Killer Mike é uma mistura de MJG e o homem do tempo? Que o El-P já assistiu o filme "American Psycho"? Sim, mas que acima de tudo, que aquela famosa fórmula da música sobre nada se encaixa muito bem no estilo do duo, que aproveita da falta de tema para criarem frases absurdas e cômicas, mas também frias e cruas, como nesta de Killer Mike: "And I love Dr. King but violence might be necessary" (o que seria uma referência a Martin Luther King, que também acreditava nesses ideais).


"Early" - Um interessante conceito aqui. O instrumental não necessariamente encaixa no tema, porém, com os versos pesados dos dois sobre a brutalidade policial (que inclusive gerou diversos escândalos no ano de 2014 nos Estados Unidos, como o caso de Michael Brown), eles contornam esse leve "desentendimento" entre ambas as coisas. O refrão retrata bem esse sentimento de solidão. Uma das faixas mais significativas no quesito letras desse álbum, sem sombra de dúvida.


"All Due Respect [ft. Travis Barker]" - Com Travis Barker (conhecido por ser um membro da Blink 182) na bateria, essa faixa também segue o padrão de "porrada na cara", mostrando toda a habilidade e eficiência de Killer Mike e El-P nas rimas. Eles se complementam muito bem em um esquema de rimas bem interessante (verso grande - refrão - verso grande - refrão - versos pequenos intercalados de cada um e por fim o refrão novamente). A referência ao filme Pulp Fiction foi deveras criativa também.

"Love Again (Akinyele Back) (feat. Gangsta Boo)"
 - Com toda certeza é a música mais explícita de El-P e Killer Mike. Somente o refrão tem uma obscenidade digna de um funk carioca, mas é interessante ver a Gangsta Boo no final reformulando tudo em uma perspectiva feminina. Ambos tem um flow muito interessante, pois o instrumental tem um ritmo diferente do normal, entretanto, Killer Mike foi o destaque nesse quesito, mostrando um flow magnífico em seu verso de palavras curtas e que vão direto ao ponto. Apesar das letras ridículas, acredito que existe um fundamento por trás, principalmente com o verso da Gangsta Boo. Poderíamos ficar especulando sobre esse sentido o dia todo, mas isso não ajudaria muito. Creio que era para mostrar o quão ridículo e fútil as pessoas soam quando não somente tem uma auto-estima fora da órbita, mas também somente valorizam o sexo e não se preocupam com os outros. O "Akinyele" no título é uma referência a um rapper dos anos 90 conhecido por suas letras sexuais. O cara até é dono de um clube de strip-tease...
OBS: Gostei principalmente da nova palavra "husbaland".




"Crown [ft. Diane Coffee]" - Outra música com letras muito interessantes. Enquanto Killer Mike mostra sua vergonha em ter sido um traficante de cocaína no período em que sua mulher estava grávida, El-P fala sobre como o governo trata os soldados, colocando-os em uma causa que não é necessariamente deles, e que devem seguir cegamente, caso contrário terão mutos problemas. Gostei principalmente do verso de El-P, pois entra um pouco em questões até filosóficas da desumanização dos soldados. "You’ll become fear They’ll become dust". Letras poderosas...





"Angel Duster"
- Seguindo o estilo da anterior, esta faixa também trata de assuntos filosóficos até certo ponto, principalmente após o refrão, pois entram fundo em questões religiosas. Ambos tocam no tema dos manda-chuvas da religião, dos pastores falsos que só querem o seu dinheiro e sua obediência. Declarações como esta sobre este assunto podem render muitas dores-de-cabeça nos dias atuais, visto que ainda a maioria da população mundial ainda é religiosa. Gostei muito de ver a Run the Jewels indo contra tudo e todos novamente, expondo suas opiniões sem medo do que poderá acontecer. O piano que aparece no final foi um toque que deixou o final com mais classe, juntamente com o instrumental grave. Ótima faixa, principalmente se olhar pelo lado das letras.

"Blockbuster Night, Pt. 2 (feat. Despot & Wiki)" - Com participações de Despot (um rapper já experiente que nunca lançou nenhum projeto) e Wiki (membro da Ratking), a faixa bônus é apropriadamente a última do álbum, pois quebra a sequência de duas músicas bem liricas, e abre novamente uma possibilidade para ouvir o álbum novamente, pois se conecta muito bem com a primeira faixa. Acredito que este detalhe foi proposital. Os versos não são tão impactantes, ou até mesmo únicos, mas é um filler legal de se ter.



Conclusão: Um álbum excelente, que mostra uma audácia muito grande por parte dos rappers, tanto na produção de El-P, que utilizou muitos elementos bem discrepantes do primeiro álbum da Run the Jewels, como nas rimas do mesmo, juntamente com Killer Mike, que conseguiram manter a atenção dos já amantes do duo e chamar a atenção para quem nunca ouvi falar. As faixas se conectam de uma maneira incrível, dando uma sensação de continuidade imensa, deixando Run the Jewels 2 incrivelmente coeso. As rimas estão sempre no ponto, sempre pesadas, e os instrumentais receberam uma atenção ainda maior. Ainda não sei se supera o primeiro, mas é definitivamente tão bom quanto.

Nota: 9,5

-Henry de Luca

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